Tuesday, November 27, 2007

Pertinente


Histórias de Literatura e Cegueira (Record, 160 pp., R$ 30) de Julián Fuks é um híbrido entre ensaio e ficção. A partir da vida e obra dos escritores Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto e James Joyce, Julián Fuks constrói pequenas histórias fragmentadas de momentos da trajetória de cada um desses autores, que possuem em comum a cegueira precoce ou tardia. Cenas da criação de poemas, contos, ensaios, romances são abordados como uma ficção sobre outra ficção. "Acho que o que essas histórias transmitem é que sempre se produz uma relação muito pessoal e particular com a cegueira", diz o autor.

O lançamento da obra acontece no dia 27/11, na Feira Moderna (R. Fradique Coutinho, 1246/1248, Vila Madalena - SP - Tel. 11-3032 2253).

Friday, November 23, 2007

Lucidez


“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”


Clarice Lispector

Monday, November 19, 2007

... De Uma Carta

"Clarice Lispector é uma coisa escondida sozinha num canto, esperando, esperando. Clarice Lispector só toma café com leite. Clarice Lispector saiu correndo correndo no vento na chuva, molhou o vestido perdeu o chapéu. Clarice Lispector é engraçada! Ela parece uma árvore. Todas as vezes que ela atravessa a rua bate uma ventania, um automóvel vem, passa por cima dela e ela morre. Me escreva uma carta de 7 páginas, Clarice".

Clarice Lispector, por Fernando Sabino. O escritor já havia terminado sua longa carta, tendo, inclusive, assinado-a. Mas, parece que ao perceber que ainda resta meia folha disponível, lançou-se nesse improviso lírico, assinando-o ao final. Carta manuscrita, enviada de Nova York e datada de 10 de junho de 1946. Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Tuesday, November 13, 2007

Uma Oração



Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo.

Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir.

Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou.

Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.

Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.


Jorge Luís Borges

Tuesday, November 06, 2007

Vale A Pena Ler


" Deslizo para esta solidão demasiado humana de não poder voltar a ser sozinho, como era quando tu existias, nesta mesma cidade, e eu já nem sequer pensava em ti ".


Inês Pedrosa in Fazes-me Falta

Conclusão De Poeta


"Um dia temos de escolher entre a dor que já padecemos e a que tentamos inventar".


Alberto da Cunha Melo in O Cão De Olhos Amarelos

Soltas...


"Depois de várias tempestades e naufrágios, o que fica em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro."


...



"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.

De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento.

Ser novo."



Caio F.

É isso aí...

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".

Clarice Lispector