Friday, August 22, 2008

Do Paraguay


A quem deixar o meu guarda-roupa oculto
o guarda-roupa fantasma
de todos os vestidos
que tive e que me abandonaram
os vestidos
que nunca tive e que vesti em segredo
O vestido que veio demasiado cedo
e que nunca me caiu bem
o vestido
que chegou já tarde
para ir à festa
quando eu já tinha adormecido

O vestido de criança
tão igual ao vestido
da primeira boneca
O da menina com o corpete já estreito
que apertava os seios doendo-lhe em casulo
O da adolescente que pressentia o homem
ladrão de túnicas na sesta sufocante

O vestido esquecido
da mulher que sob a sombra
do homem eclipse ocultou-se uma noite
e amanheceu como a lua cheia
surpreendida pela luz na metade do céu

O vestido de guerra rasgado
como bandeira
da mãe partida em dois
para sentir-se inteira

O vestido de luto que não levei para os meus
mortos
que ainda vivem

Os vestidos que alguém me emprestou para sonhar

...Quando chegar a morte também será um vestido
que não verei porque estarei a dormir.



Josefina Plá

3 comments:

Folhetim Cultural said...

Olá passo em seu blog para convidar você a visitar o meu que é dedicado a cultura. De segunda a sexta feira noticiário cultural aos sábados minha coluna poética ás 09 horas da manhã e ás 5 da tarde Chá das 5 sempre com uma participação especial. Irei guardar sua visita lá. Abraços sucesso em seu blog.

Magno Oliveira
Twitter: @oliveirasmagno ou twitter/oliveirasmagno
Telefone: 55 11 61903992
E-mail oliveira_m_silva@hotmail.com

Anonymous said...

Lady Cronopio de palavras bonitas, escrita na alma do pensamento, para alegrar outros pensamentos a procura, talvez, de inspiração. Obrigado por me seguir, segui-la-ei também. Abraços e sucesso.

Eliane F.C.Lima said...

Lady Cronopio,
Tenho observado que a medicina está mesmo imbricada com a literatura. Temos exemplos vários: Guimarães Rosa, Jorge de Lima etc. Eclético e culto seu blogue, pois foge do tradicional canônico.
Parabéns.
Eliane F.C.Lima (http://poemavida.blogspot.com e http://literaturaemvida2.blogspot.com)